terça-feira, 11 de junho de 2013

Liquidificar

"Quero ser o teu amor amigo. Nem demais e nem de menos. 
Nem tão longe e nem tão perto. 
Na medida mais precisa que eu puder. 
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida, 
Da maneira mais discreta que eu souber. 
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar. 
Sem forçar tua vontade. 
Sem falar, quando for hora de calar. 
E sem calar, quando for hora de falar. 
Nem ausente, nem presente por demais. 
Simplesmente, calmamente, ser-te paz. 
É bonito ser amor amigo, mas confesso é tão difícil aprender! 
E por isso eu te suplico paciência. 
Vou encher este teu rosto de lembranças, 
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias..."
(FERNANDO PESSOA)




Os raios de sol que invadem meu quarto pela janela entreaberta, aos poucos vão sumindo, como se meu pensamento tivesse poder e o fizesse entender que não o quero ali. Não é sol que anseio, não é luz, não é diz azul e quente.

Eu quero o cinza, a tranquilidade que ele me traz, o vento frio que me toca a pele e dissemina meus poros, arrepia minha alma, como esses carinhos que recebo pelo ouvido e me fazem querer viver  todos os clichês que existem e se encaixam tão perfeitamente bem. Que ora ventania, ora brisa, em meio a essa felicidade, faz o coração parecer saltar, faz surgir esse riso bobo que permanece e emudece a alma. Essa vontade de achar algo maior que o amor, que amar...  Que consegue fazer "aí" virar logo ali na esquina. Faz a ausência inexistir e só ser lembrada, quando tento segurar tua mão do outro lado da linha e não alcanço. Quando tento descansar minha cabeça no teu peito e não te encontro.É quando lembro que nunca gostei muito de Geografia e hoje ela parece se vingar de todas as vezes que foi desdenhada por mim na sala de aula.

E meu afligir começa... E acaba... Assim que a chuva começa a cair e me embala, como se fosse a mais bela canção, o doce som dos pingos de encontro a minha janela. E sinto no meu corpo o teu sorriso, quando a gente descreve meticulosamente como vai ser aquele encontro, aquele abraço, aquele jantar na cozinha lá de casa, conversando sobre qualquer-coisa-nada-interessante que não faz diferença nenhuma nas nossas vidas, exceto pelo fato de estarmos comendo um do lado do outro. Enxergando um ao outro, mesmo que a gente se veja todo dia. Com todas as caretas possíveis e todas as conversas (in)apropriadas. 

E mesmo que o tempo pareça parado, diante da contagem regressiva de cada segundo que vem tão devagar. Mesmo quando o cinza do céu se vai e leva a minha paz consigo. Mesmo assim, permanecerei aqui. Nessa espera silenciosa, nessa agonia absoluta, enrolada no meu cobertor verde-xadrez, absorta em meus sentimentos e vontades, onde o cinza é sempre colorido, onde o vento é meu melhor amigo, e onde liquidificador  é bem maior que amor.

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