Seis horas

Você me liga seis horas da manhã e isso me tira do sério. A primeira reação é sempre a mesma: perguntar se aconteceu alguma coisa. Mas claro que não, você só quer me dizer bom dia, saber se eu estou bem, se assegurar que tudo que é seu está no lugar. Estou! A resposta direta é o suficiente pra você me acusar de mau humorada. Olha só quem fala. Me dá até vontade de rir. Fala como se não ouvisse o tom sério que sempre usa, como se não lembrasse de todas às seis horas da manhã em que ligou pra brigar comigo pelas noites inteiras em claro que passei, por não ter me alimentado direito. Só me resta mesmo achar engraçado sua acusação e te irritar mais! Desculpa, mas tenho que rir. Não, não tô debochando não. Te juro! Tô rindo por que acho que você é muito bobo, que adora um drama digno de Televisa. É eu sei que você fica com raiva quando eu minimizo as coisas que te incomodam, mas suas tempestades num copo d’água são muito engraçadas.

E é nesse momento que você inverte o jogo, se faz de menino birrento e chantagista. E eu já sei o que fazer, já sei que tenho que elevar teu ego até as nuvens, já sei que tenho que me mostrar toda tua, se não sua birra boba vai crescer e eu nem sei onde vai parar. Então eu começo a falar tudo o que sinto pro seu bel prazer. E você adora! Eu sei que você adora! Adora se sentir nessa condição de dono, de posse, de “esse território aqui é meu”. E ainda deixo você se sentir nessa condição machista. Ai! Eu deixo! Por enquanto está tão bom, mas você sabe que vou seguir com meus discursos antimachismo, né? Mas eu continuo com eles amanhã! Que hoje quero mesmo te mimar bem muito que despertei meio assim, com síndrome de “Amélia”, com vontade de te agradar em tudo.
É você sabe bem como reverter à situação. E sabe como me deixar de bom humor mesmo me acordando seis horas da manhã. Mesmo depois de uma ligação de meros três minutos. Três minutos que são suficientes pra não me permitir virar pro lado e voltar a dormir.