Eu, comigo mesma!

"Vida, louca vida, vida breve!
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Vida, louca vida, vida imensa!
Ninguém vai nos perdoar
Nosso crime não compensa"

Eu que me nego a passar meus dias com a cabeça enfiada no travesseiro, que a preguiça que sinto de viver não afeta nem por um segundo um fio se quer de cabelo que eu tenho. Não perco meus dias de glória sentindo pena de mim mesma, sinto pena dos outros que estão por ai, se degradando, se acabando, se ferindo de morte por uma caixa de fósforos, sinto pena de quem não tem a menor consciência de seus próprios atos e acha que ao agir nada reagirá pra si, sinto pena do mundo de escórias que vivem tão negligentemente e me fazem perder meu precioso tempo sentindo pena de tal. Eu to aqui é pra viver e enquanto eu respirar é isso que farei, nem que meu último suspiro seja dado enquanto eu escalo o muro mais alto, e se eu conseguir chegar lá, gritarei ao mundo que eu vivi. Sim, vivi e vivo. E nem por um milésimo de segundo me arrependo de algo feito. Nem daquele porre que me fez quase me afogar ao enfiar a cabeça na privada pra vomitar aqueles horrores de vodka que eu havia tomado. Ah! Não me arrependo desse fato. Ele me foi tão útil. Hoje, eu vomito no chão mesmo, pra não correr risco, que é pra esvaziar meu corpo de toda aquela frivolidade alcoólica que eu me permiti ingerir. Eu que quase sempre me perco em meio as minhas crises, meus surtos, meus devaneios. Eu disse: quase sempre! Às vezes eu me acho em meio a eles e me vejo totalmente lúcida, crente e feliz. A vida é essa roda gigante de sensações. Às vezes a gente ta em cima, às vezes a gente ta em baixo, mas nunca a gente fica só em cima nem permanece só em baixo. Tudo muda! Tudo passa! E eu que não vou ficar aqui estagnada em meio a tanta coisa que eu posso me permitir, me obrigar, me necessitar a ter e fazer. Prefiro o caos, prefiro o tumulto das multidões, prefiro o barulho, a desordem, as poluições sonoras das musicas e dos gritos de uma boa festa a noite inteira, a vida inteira. Que eu quero mais é que o mundo todo perceba que é perca de tempo repararem em mim. Que eu sou mais uma nessa vida louca com ânsia de vida, com sede de vida, com fome de vida. E que eu vou um dia parar com tudo isso, quando talvez eu me permitir respirar mais devagar, falar mais devagar, pensar mais devagar, que até então tudo, tudo, tudo, que eu sei e que eu quase sempre me deixo saber é que vou viver por mais dez, mais cem, mais mil anos, de hoje até amanhã de manhã.


"Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. Continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Dá minha jaqueta, boy, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada"

(C.F.A)